domingo, 25 de outubro de 2009

Miss Needle



Nome: Ingrid Barroso
Cidade: Porto
Blog: missneedledesign.wordpress.com
Loja online: missneedledesign.etsy.com




Como descreverias o teu trabalho?

Quase todo o meu trabalho tem como base técnicas tradicionais de cartonagem e encadernação. A partir dessas técnicas, que muitos de nós aprendemos ainda na escola, reinvento formas, misturo materiais, cores e texturas. Crio cadernos, caixas, agendas e álbuns únicos, com detalhes e carácter muito próprios.



Como é que tudo começou?

Desde criança que me lembro do gosto pelos tecidos, pelas linhas, pelos lápis de cor, pelos cadernos… E pelas caixas: de costura, de fotografias antigas, de recordações e de objectos esquecidos pelos adultos, que para mim tinham o encanto de um tesouro escondido.

Recordo-me de ir para o sótão, de vasculhar gavetas, caixotes e frascos, de retirar tudo do seu interior, observar cada detalhe de cada objecto e depois voltar a colocar tudo no devido lugar… E voltar meses depois e voltar a contemplar tudo como se fosse a primeira vez. Sempre fui muito apegada ao passado, a memórias e recordações. Guardo cadernos de viagem, agendas que se transformam em diários, caixas com conchas, pedras, flores e objectos que marcaram um determinado instante.

Assim, foi quase inato começar a criar os meus próprios «Guardadores de Memórias», objectos que acolhem sonhos, pensamentos, fotografias, recordações… momentos. E foi o prazer de estar sempre a criar objectos novos que fez com que os começasse a oferecer a familiares e amigos. Foram eles que me incentivaram a pensar o meu passatempo de uma forma mais séria, e mais tarde, a criar a Miss Needle.

Como escolheste o nome do teu projecto?

As agulhas são uma constante no meu trabalho. São ferramentas essenciais à encadernação tradicional, à costura japonesa e sobretudo ao detalhe de cada peça. Miss Needle também porque através da internet, os nossos trabalhos chegam a todo o mundo e o inglês é o idioma por excelência do mundo virtual.


Porquê fazer crafts? O que é que te motiva?

É uma distracção, uma terapia… Adoro estar no meio de papéis, tecidos, contas e fitas… É um momento só meu, em que não penso em mais nada a não ser no que estou a criar. Aqui não tenho limites criativos, preocupações, horários. Apenas o gosto de estar continuamente a criar algo novo.

Os crafts são um trabalho a tempo inteiro? O que ocupa os teus dias?

Não, os crafts não são um trabalho a tempo inteiro. Sou arquitecta de profissão.


De onde vem a inspiração para os teus trabalhos?

Das minhas memórias, dos livros que leio, das viagens que faço… A inspiração vem também dos próprios materiais com que trabalho, especialmente dos tecidos e papéis. Cada um tem a sua personalidade, a sua força próprias e são essas características que acabam por me ajudar na definição da sua utilização, do seu destino e da sua forma final.

Onde é que encontras os materiais para os teus projectos?

Encontro materiais para os meus trabalhos em casa, em baús, gavetas e caixas há muito esquecidas… Na rua, em retrosarias antigas, lojas de chitas e de artigos de scrapbooking. Além disso reutilizo embalagens, sacos, papéis de embrulho, fitas e até algumas peças de vestuário. Há ainda as pessoas que conhecem o meu trabalho e que me oferecem papéis, tecidos, botões… Tudo aquilo que sabem que pode ganhar um novo fôlego, uma nova vida através dos meus trabalhos.


De todo o processo de produção das tuas peças qual é a parte que mais te agrada?

A concretização. O momento em que cada peça fica pronta, em que vejo o resultado final da amálgama de materiais, de texturas e de cores… O instante em que tudo faz sentido e em que cada trabalho adquire a sua própria personalidade, o seu próprio carácter. E depois adoro o momento em que alguém se identifica e se apaixona pelo meu trabalho... É como se se completasse um ciclo. As minhas peças ganham vida nesse momento. Encontram o seu destino nas lembranças e sonhos e fantasias de alguém.

Como é que divulgas o teu trabalho?

Divulgo o meu trabalho no meu blog, em lojas, em algumas feiras de artesanato em que participo e, claro, através dos amigos e do passa palavra.

A internet tem um papel importante na divulgação do teu projecto?

Sim! Tem um papel importante na divulgação do meu trabalho e não só… O meu blog é ele próprio um «Guardador de Memórias», dos trabalhos que realizei, muitos deles peças únicas.



O que achas da actual moda do artesanato urbano?

É mais do que uma moda. É uma ocupação que surge da necessidade que muitas pessoas, sobretudo jovens, têm de complementar a sua actividade profissional. Uns encontram no artesanato uma realização e satisfação que não retiram do seu dia-a-dia a nível profissional. Outros complementam o seu baixo rendimento com o extra que o artesanato proporciona. Há ainda aqueles que procuram no artesanato um meio de sobrevivência enquanto procuram um emprego. E finalmente há os que por há tanto tempo, sem sucesso, procurarem um trabalho, se entregam de corpo e alma ao artesanato e para os quais este passa a ser a sua actividade principal. E são estes que por se sentirem realizados, pelo prazer que retiram de uma actividade criativa totalmente livre, que persistem e por isso crescem e evoluem. Para estes é mais do que uma moda, é um modo de vida.



Que conselho darias a quem ainda anda à procura do seu próprio estilo nos trabalhos manuais?

Fazer o que realmente gosta. Afinal, não é esse o principal objectivo dos crafts? Podermos fazer o que sinceramente nos apetece, criar sem limites… Sermos alheios ao que os outros pensam. Agradarmos apenas a nós próprios… Aos outros, se possível. E sobretudo divertirmo-nos com o que fazemos! Penso que só assim é possível encontrar um estilo próprio.

Podes partilhar alguns dos teus crafters favoritos?

Há muitos crafters que admiro, no entanto partilho apenas três, por motivos diferentes: a Keisha Campbell, pelos seus layouts absolutamente fabulosos de srapbooking que me inspiram todos os dias, a Mané Pupo, pela sua generosidade e pelo talento e delicadeza do seu trabalho, e a Ema Carneiro, pela sua criatividade, força empreendedora e companhia em todas as feiras em que participo.



Quais são os teus sonhos para o futuro?

Continuar a fazer o que gosto. Não parar nunca de evoluir técnica e criativamente. E, claro, que os meus «Guardadores de Memórias» cumpram o seu destino e acolham muitos e inesquecíveis momentos!

domingo, 18 de outubro de 2009

Owl Mania



Nome: Fernanda Gomes
Cidade: Maia
Blog: owlmania.blogspot.com
Flickr: www.flickr.com/photos/37601550@N07




Como descreverias o teu trabalho?

O meu trabalho reflecte o que me vai na alma, a libertação da minha criatividade, as cores que povoam o meu pensamento… É um conseguir voar acordada. Serve para fugir à rotina pesada do dia-a-dia. É o meu escape. O meu paraíso!



Como é que tudo começou?

Por volta dos 6 anos, altura em que aprendi a tricotar e a fazer roupa para as minhas bonecas. Era uma festa! Aí começou o meu gosto pelos trabalhos manuais mais concretamente pelo tricot, crochet, ponto de cruz. Por volta dos 15 anos aprendi noções básicas de costura. O patchwork só veio há um ano a partir de um workshop que fiz no MUUDA. Mas a paixão pelos tecidos, pela conjugação dos mesmos foi tanta que desde aí não consegui parar!

Como escolheste o nome do teu projecto?

Sou uma apaixonada por mochos. Colecciono mochos há quase 14 anos. Tenho centenas deles.O nome do projecto surgiu naturalmente dessa «mania».



Porquê fazer crafts? O que é que te motiva?

A serenidade que me transmite. Eu sou stressada por natureza, ando sempre a correr, a fazer mil e uma coisas em simultâneo. Quando crio, páro. Concentro-me. Relaxo. É um momento só meu!

Os crafts são um trabalho a tempo inteiro? O que ocupa os teus dias?

Não. Eu sou licenciada em Economia e trabalho numa instituição financeira na área de Análise de Dados. Os crafts vêm à noite, na hora do descanso e ao fim-de-semana.



De onde vem a inspiração para os teus trabalhos?

Do meu dia-a-dia, das cores do Porto, do sorriso da minha filha… mas tudo o que me rodeia acaba por influenciar o meu trabalho.

Onde é que encontras os materiais para os teus projectos?

Normalmente encomendo os tecidos e o batting [ http://en.wikipedia.org/wiki/Batting_(material ] online. Às vezes compro alguns tecidos, botões, galões no comércio tradicional da cidade do Porto.



De todo o processo de produção das tuas peças qual é a parte que mais te agrada?

A idealização da peça, o conjugar dos tecidos e o corte dos mesmos. Gosto muito de «misturar paninhos».

Como é que divulgas o teu trabalho?

Sobretudo na internet (no blog e no flickr). Os amigos também ajudam na divulgação, comprando algumas peças e fazendo publicidade.



A internet tem um papel importante na divulgação do teu projecto?

Muito importante. A internet fez com que, em pouco tempo , meu trabalho fosse conhecido e chegasse a outros países, o que de outra maneira era impossível.

O que achas da actual moda do artesanato urbano?

Apesar de ser uma moda acho muito importante o regressar a ofícios que até há pouco tempo eram deixados de lado, mas dando agora um toque de actualidade, modernidade. Tudo o que seja expressar a criatividade é muito positivo. Não sei se vai durar, mas enquanto cá estiver revela muitos talentos que de outra forma estariam escondidos.



Que conselho darias a quem ainda anda à procura do seu próprio estilo nos trabalhos manuais?

Primeiro fazer o que verdadeiramente gosta. Depois tentar descobrir a sua identidade, o seu traço. A seguir divulgar e ir evoluindo.



Podes partilhar alguns dos teus crafters favoritos?

Tenho vários, mas não quero referir nomes para não fragilizar… No entanto, deixo aqui uma referência especial ao meu círculo de amigas crafters (elas sabem quem são), mulheres excepcionais, a todos os níveis, e com trabalhos fantásticos!

Quais são os teus sonhos para o futuro?

Um sonho? Ter um atelier / loja / salão de chá, local que seja um ponto de encontro de crafters talentosos onde a troca de experiências seja a nota dominante…

domingo, 11 de outubro de 2009

Beijos de Algodão



Nome: Sandra Nascimento
Cidade: Vila Nova de Gaia
Blog: beijos-de-algodao.blogspot.com
Loja online: beijos-de-algodao-loja.blogspot.com





Como descreverias o teu trabalho?

Adoro literatura infantil, contos de fadas e lendas encantadas. Assim sendo, as minhas aguarelas revelam mundos mágicos e singulares. As minhas ilustrações, inspiradas na natureza e nas diversas culturas, são únicas e ricamente detalhadas, plenas de texturas, padrões e cores alegres. É um trabalho minucioso e perfeccionista que requer muita dedicação e empenho.



Como é que tudo começou?

O prazer de desenhar e pintar começou na adolescência. Segui os estudos na área das Artes Visuais e licenciei-me em Design de Comunicação Visual pela Escola Superior de Artes e Design de Matosinhos. O desenho era uma das minhas disciplinas predilectas. Mas só há cinco anos é que a ilustração se tornou realmente uma paixão. Comecei a pintar para os filhotes dos meus amigos. Coloquei um pequeno portfólio num site internacional e comecei a ser contactada por empresas de vários países, entre elas a Imagezoo, um banco de imagens canadiano que só comercializa ilustração. Nessa altura, iniciei um sério e verdadeiro processo criativo desenvolvendo um estilo próprio que tento aperfeiçoar todos os dias. Algo que me distinga dos outros ilustradores.



Como escolheste o nome do teu projecto?

Quando eu e o meu Príncipe nos conhecemos, sempre que trocávamos emails, ele despedia-se com um beijo diferente. Adorei quando me enviou «beijos de algodão». Como este projecto especial só existe porque o meu Príncipe está ao meu lado, fazia todo o sentido chamar-lhe Beijos de Algodão. Desde Agosto de 2008 que é marca registada, uma tentativa (nem sempre conseguida) de proteger os meus direitos de autor.



Porquê fazer crafts? O que é que te motiva?

Durante 11 anos o computador foi o meu instrumento de trabalho na minha actividade de Designer de Comunicação Visual. O cansaço e a rotina levaram-me de volta aos lápis e aos pincéis. Este contacto com os materiais, a textura do papel, as cores brilhantes das aguarelas líquidas fascinam-me. A possibilidade de poder abordar temas que me agradam particularmente tornam todo o trabalho muito pessoal e emotivo. Algo que não conseguia obter no computador. É claro que este continua a ser um dos meus instrumentos, principalmente nas artes finais e preparação de planos para impressão. Mas a grande parte do tempo é passada a criar… no papel.

Os crafts são um trabalho a tempo inteiro?

A ilustração é a minha actividade a tempo inteiro desde Novembro de 2007. Durante cerca de dois anos consegui conciliar a ilustração (em casa) com o design (na empresa) mas o número de encomendas foi aumentando e tive de optar. Incentivada e apoiada pelo meu Príncipe escolhi o caminho mais difícil, troquei um emprego estável por algo totalmente incerto. Acho que valeu a pena. Agora tenho uma forma diferente de encarar a vida… vivo um dia de cada vez.



O que ocupa os teus dias?

A organização dos meus dias varia consoante o tipo de projecto. Posso estar dias seguidos a pintar; passar uma semana a tratar da produção de determinados materiais (cortar, dobrar, colar, inserir nos envelopes…); manhãs inteiras a responder a pedidos de informação; elaborar orçamentos; preparar encomendas para o envio por correio; verificar pagamentos e facturar; ir aos correios; visitar as lojas; divulgar, etc.. Para que tudo fique perfeito na data agendada, sem atrasos, preciso de me organizar e rentabilizar o tempo… que passa a correr!



De onde vem a inspiração para os teus trabalhos?

A inspiração aparece naturalmente no meu dia a dia: pode estar na natureza, numa música, num livro, num país, numa cultura… em todo o lado e em tudo o que me rodeia.

Onde é que encontras os materiais para os teus projectos?

Em papelarias e fornecedores de papéis.

De todo o processo de produção das tuas peças qual é a parte que mais te agrada?

Adoro perder-me nos detalhes!



Como é que divulgas o teu trabalho?

Através do blog Beijos de Algodão, do site internacional de portfolios Coroflot e das exposições que vou realizando. As lojas que comercializam os meus produtos são também outro meio importante de divulgação. E os amigos… que vão passando a palavra.

A internet tem um papel importante na divulgação do teu projecto?

É o meio mais eficaz, tendo em conta que 90% das encomendas são efectuadas através de email por pessoas anónimas de diversas zonas de Portugal (e outros países) que encontram o meu trabalho na internet.

O que achas da actual moda do artesanato urbano?

Não concordo com a designação artesanato urbano. Prefiro chamar-lhe artesanato contemporâneo e penso que é isso mesmo: uma «moda». Devemos estar atentos, saber seleccionar e valorizar os projectos que são realmente criativos, inovadores e com qualidade. São estes que irão sobreviver quando a «moda» passar.



Que conselho darias a quem ainda anda à procura do seu próprio estilo nos trabalhos manuais?

Devemos ter conhecimento e noção de tudo aquilo que já foi criado. Se gostamos de uma técnica ou material em particular, há que aprender a trabalhá-los e explorar todas as hipóteses que eles nos podem dar. Se nos empenharmos, o nosso próprio estilo acabará por se desenvolver naturalmente. Basta sermos nós próprios e passarmos as nossas características e valores para os projectos. Se cada pessoa é um ser único, também o seu trabalho será único.

Podes partilhar alguns dos teus crafters favoritos?

São muitos… e todos com trabalhos excelentes. É impossível fazer referência apenas a alguns.

Quais são os teus sonhos para o futuro?

Continuar a ilustrar e a criar mundos coloridos para partilhar com todos :)

domingo, 4 de outubro de 2009

vÂniA kOstA



Nome: Vânia Costa
Cidade: Braga
Blog: dedalnodedo.blogspot.com
Flickr: flickr.com/photos/vaniakosta





Como descreverias o teu trabalho?

Embora sejam diversos os formatos sobre os quais me expresso, vou falar apenas do universo de pano que me trouxe até aqui. Se pensar nos ingredientes que fazem parte deste universo de pano, descrevo-o como um preparado de etusiasmo, intuição, ternura e nostalgia que se materializa numa verdadeira entrega e, consequentemente, em cada pormenor das minhas criações. Se pensar no processo, descrevo-o como uma viagem ao interior do meu coração, às memórias, ao e(terno) desejo de chegar até às pessoas e de lhes falar através da linguagem dos
afectos.



Como é que tudo começou?

É difícil identificar esse instante. Acredito que o «começar» despertou numa qualquer brincadeira de infância e que, embora sem consciência dele na altura, se terá desenvolvido ao longo do tempo e hoje resulta em diversos gestos criativos. As brincadeiras de infância são excelentes formas de experimentação e descoberta. Se alguns de nós continuam a «sonhar» mesmo depois de crescidos é porque somos capazes de reencontrar encanto nas coisas mais simples que nos rodeiam e isso dá-nos alimento para sonhar e criar.

Recordo-me que, desde muito pequenina, deliciava-me com os momentos em que criava pequenas coisas com os materiais mais simples que encontrava. Lembro-me de «descascar» a vassoura da minha avó para fazer anéis rebuscados para oferecer (os primeiros acessórios de moda). Lembro-me de, sorrateiramente, ir tirando galões, linhas e pedacinhos de tecidos da caixa de costura da mamã para, às escondidas, fazer as roupas para as minhas bonecas. Até ao dia em que não resisti e, em frente às amigas, disse que sabia costurar e tentei fazer um vestido para mim com um tecido azul turquesa belíssimo que a mamã tinha guardado (os primeiros passos na costura). Lembro-me das bonequinhas que fazia com pedacinhos de lã para oferecer à minha tia e que ainda hoje as tem penduradas na chave da cómoda (as primeiras personagens). Lembro-me da autorização para pintar, desenhar e escrever numa das paredes do quarto ter proporcionando momentos fantásticos de divertimento e criação, em que as amigas também adoravam participar (algumas ainda tentaram fazer na sua casa, o que lhes valeu uma bela palmada). Lembro-me da caminha de madeira para as bonecas que o papá me ajudou a fazer na oficina do avó ao sabor do cheiro dos vernizes e do ruído das goivas a esculpir as madeiras. Tantas lembranças, que fazem hoje parte de mim e de tudo o que faço.



Como escolheste o nome do teu projecto?

Na altura em que pedi ajuda para criar o blog tive de pensar rapidamente num nome. Entre risadas e alguma pressão (porque não tínhamos muito tempo) ocorreu-me dedal no dedo. De qualquer forma, é como Criações vÂniA kOstA que todos reconhecem o meu pequeno universo de pano.

Porquê fazer crafts? O que é que te motiva?

A busca incessante da felicidade através do simples gesto criativo. A magia de partilhar quem somos simplesmente através da linguagem dos afectos. Neste caso, «materializados» nas diversas criações de pano que acabam por ser um prolongamento de mim mesma e que os outros podem acolher e cuidar.

Os crafts são um trabalho a tempo inteiro? O que ocupa os teus dias?

Posso dizer que neste momento me absorvem completamente. No entanto, existem outros projectos que volta e meia volto a abraçar e tantos outros a aguardar o seu tempo.



De onde vem a inspiração para os teus trabalhos?

A inspiração pode surgir de simples memórias, da beleza das coisas simples que nos rodeiam, de objectos ou palavras que são por si só muitas vezes o bilhete para uma divertida viagem com os diversos materiais espalhados sobre a mesa de trabalho ou mesmo pelo chão [materiais que a azeitona também ajuda a espalhar!]. Ela também é claramente a inspiração para muitas das minhas criações.

No entanto, foi uma simples personagem de pano que fiz para oferecer à minha irmã que impulsionou este projecto. Naquele momento, senti que aquela personagem de pano seria a melhor forma da minha irmã levar consigo um pedacinho de mim para a viagem que fez no âmbito do projecto Sócrates/Erasmus. Desde então nunca mais deixei de acrescentar pormenores e personagens a todo este universo, hoje salpicado de cor, de olhares curiosos e ternos contadores de histórias.



Onde é que encontras os materiais para os teus projectos?

Preferencialmente em retrosarias e lojas. Nunca comprei nada pela internet. «Ainda sou do tempo em que...». Tenho de tocar e sentir as texturas dos materiais, o que não quer dizer que um dia não me possa render aos materiais de uma loja on-line.

Algumas criações são também confeccionadas a partir de matérias-primas cedidas por empresas e lojas, abraçando a ideia de re-aproveitar materiais. Outros pequenos tesouros como tecidos antigos, galões, botões e outros são trazidos por vizinhas, amigas, familiares... pessoas que conhecem o meu trabalho e às vezes tocam à campainha com um saquinho para mim «Achei que lhe poderia fazer jeito!».

Existem ainda encomendas confeccionadas a partir de tecidos que, por diversas razões, têm uma ligação forte com as pessoas que as encomendam. Estes pedidos tornam-se igualmente especiais para mim. Aqui fica um muito obrigada a todos!



De todo o processo de produção das tuas peças qual é a parte que mais te agrada?

Todas as fases do processo são importantes. Desde a idealização da peça, que nasce muitas das vezes no instante em que a tesoura, as linhas e a agulha dançam sobre o pedaço de tecido colocado sobre a mesa; à aplicação dos pormenores que dão uma expressão especial às peças e as fazem falar connosco; ao registo fotográfico, muitas das vezes em ambientes criados propositadamente para o efeito, como os famosos e divertidos passeios pelos recantos do Bom Jesus e da cidade; à criação de textos que complementam as peças até ao momento da partilha com outros olhares.



Como é que divulgas o teu trabalho?

Comecei por divulgar este universo de pano em 2005 numa exposição na Livraria Centésima Página, aqui em Braga, na altura em que inaugurou o novo espaço na Casa do Rolão. Desde então, sinto uma ligação com este espaço. Frequentemente, apresento lá as novas criações e exponho outros trabalhos, nomeadamente na área da ilustração e da pintura.

Quando comecei a pensar seriamente neste projecto como uma forma de vida tive a oportunidade de divulgá-lo na Feira de Artesanato de Vila do Conde, em 2007. Embora participe em poucas, algumas feiras de artesanato têm sido um óptimo meio de divulgação e comercialização das minhas criações. Mas tenho um carinho especial pela Feira de Vila do Conde. Foi a primeira vez que tive um contacto muito próximo com as pessoas, além de ter conhecido também artesãos com extraordinárias e deliciosas histórias de vida.

O blog também tem sido um excelente formato de divulgação, sobretudo porque mantém as pessoas actualizadas sobre as criações que vão surgindo, as iniciativas onde vou participando, as exposições que vou organizando e os locais/lojas por onde as minhas criações vão sendo acolhidas.



A internet tem um papel importante na divulgação do teu projecto?

Claro que sim. O blog tem sido um livro aberto, onde partilho cada pormenor das minhas criações enquadradas em episódios que fazem parte dos meus dias. Palavras e imagens que são complementos essenciais. Porque sinto que tudo faz parte de um todo e é este alinhamento que me encanta e que tem conquistado novos olhares e sorrisos.

O que achas da actual moda do artesanato urbano?

Tenho «descoberto» criações e autores simplesmente extraordinários. Sinto que comuniquei rapidamente com o universo de alguns deles, talvez porque também me reencontrei na sua linguagem estética. Mas esta pergunta remete-me infelizmente para o outro lado, o mais triste. Senti imensa confusão quando me confrontei pela primeira vez com imitações. A complexidade que senti foi a mesma que sentiria se tivesse visto algo muito próximo do meu universo. No início tudo isto me causava imensa confusão, mexia demasiado comigo, mas aprendi a lidar com este sentimento.

As criações «falam-nos», não só através da linguagem estética que possuem, como pelas histórias que existem por detrás de si. São estes «pormenores» que tornam algumas criações especiais e verdadeiramente «nossas» e este encanto reconhece-se e diferencia-se facilmente de outros trabalhos.



Que conselho darias a quem ainda anda à procura do seu próprio estilo nos trabalhos manuais?

Sugiro apenas que sejam sempre verdadeiros consigo próprios.

Podes partilhar alguns dos teus crafters favoritos?

Ainda tenho de conhecer alguns mais...

Quais são os teus sonhos para o futuro?

Tantos que não daria para enumerar, mas posso dizer que todos eles caminham para o mesmo objectivo continuar a alimentar e acolher a felicidade.